As características acima apresentadas constituem o que se pode chamar de tecnologia do feedback eficaz. São maneiras de externar precauções e métodos cuja inobservância torna disfuncional (poder destrutivo da comunicação interpessoal genuína) o processo de feedback. Ainda que rigorosamente aplicadas, toda tecnologia de Ciência Social pode resultar, entretanto, em disfunções não previstas e menos ainda desejadas. Isso porque as técnicas são menos relevantes do que as premissas de valor e atitudes que as embasam. Foi essa a lição mais sábia que Douglas McGregor legou à Ciência Social.
Em síntese: a inobservância da tecnologia adequada torna o feedback destrutivo, mas não basta a aplicação rigorosa dessa tecnologia para assegurar ao feedback a eficácia mediante a qual a comunicação genuína conduz à certeza de relações. O domínio da tecnologia do feedback não é tudo, portanto, para essa garantia, e só terá utilidade à luz de uma perspectiva ético-psicológica do relacionamento interpessoal. É precisamente esta abordagem a proposição fundamental do presente artigo.
A Dimensão Ética. Todo feedback pode ser classificado, quanto à autenticidade da mensagem transmitida, como verdadeiro ou mentiroso. Assim, do ponto-de-vista da natureza de seu conteúdo, o feedback só tem duas possibilidades éticas: verdade ou mentira. Não há meio termo; essas possibilidades não são pólos de um continuum, mas posições essencialmente antiéticas. Não se trata de “mais verdadeiro do que mentiroso”, pois qualquer extensão de inverdade é suficiente para classificar o feedback como mentira. É indispensável ressaltar que “verdade”, no caso, corresponde à percepção que tenha o transmissor à respeito da mensagem que emite. Ele bem pode estar enganado, mas acha que não está. Portanto, neste caso, “verdade” não se caracteriza em termos absolutos, objetivos externos ao transmissor, mas em termos de verdade pessoal, subjetiva, daquilo que ele genuína e honestamente crê verdadeiro. O mesmo raciocínio se aplica a “mentira”. Mas é fundamental distinguir entre mentira (intencional, consciente) e racionalização. Esta última consiste na alegação de motivos ou justificativas convenientes para o sujeito porque o poupam do ônus de ver as causas ou motivos reais de um problema, sem que o sujeito esteja complacente, porém de estar recorrendo a esse mecanismo psicológico de fuga. Pelo contrário, ele consegue desenvolver estruturas lógicas de raciocínio que o convencem da “verdade” de seus argumentos. A racionalização, portanto, se classifica como “verdade” e não como “mentira”.
A Dimensão Psicológica. Além e independentemente do conteúdo, da substância, da veracidade, o feedback pode ser classificado segundo a motivação do sujeito. Enquanto a dimensão ética enfoca o que se diz, a psicológica analisa por que se diz. Com efeito, a eficácia do feedback como instrumento de comunicação genuína com vistas à certeza de relações entre duas pessoas dependente significativamente das razões, das intenções, da motivação, enfim, do transmissor. Todos sabem que a mesmíssima mensagem pode provocar reações extremadas de rejeição ou de aceitação…dependendo de quem venha, ou melhor, dependendo da recepção do receptor quanto às intenções do transmissor.
Assim, do ponto-de-vista das intenções do transmissor, o feedback pode ser motivado por amor ou por desamor. Também aqui não há meio termo, “um pouco mais por amor do que por desamor”, ou vice-versa. É possível, apenas, imaginar um ponto neutro, ou de indiferença. Para efeito deste artigo, contudo, o feedback será visto como motivado por amor ou por desamor.
O sentido de “amor”, como aqui empregado o termo, é o mais amplo possível. Não se confunde com o sentido comum de amor entre duas pessoas. Antes, significa respeito genuíno pela dignidade de outrem com pessoa humana, sentimento de responsabilidade pelo bem-estar e crescimento do outro. Esse sentimento só será possível se existir o auto-respeito, que é a força em conseqüência da qual se é “compelido” a respeitar (amar) o outro. Quando alguém se preocupa muito em se ter, não consegue se dar, ele “se ganha”, instala-se o auto-respeito, e nem será preciso mesmo gostar do outro e menos ainda amá-lo, no sentido comum, para respeitá-lo como pessoa humana. O que precisa haver é genuíno respeito recíproco, para que A e B atuem bem a dois, seja qual for seu relacionamento.
Evidentemente, o sentido de “desamor”, como aqui aplicado, se presta a qualificação análoga. Não se trata de inimizade, antipatia ou rejeição afetiva (embora essas condições possam existir na relação do transmissor como receptor), mas de genuíno desrespeito ou desapreço à pessoa humana do outro.
Kleber Nascimento
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