Às vezes você acha que está resolvendo um problema, mas está apenas criando outro, diz um consultor canadense.
Por Álvaro Oppermann
Um problema às vezes é mais do que um problema. É um paradoxo, uma situação em que termos verdadeiros levam a uma aparente contradição. Segundo o consultor canadense Alex Lowy, do Transcend Strategy Group, especialista em tomada de decisões, conhecer paradoxos é fundamental para quem lida com gestão. Para facilitar o entendimento, ele os identifica no artigo Nine paradoxes of problem solving (“Nove paradoxos de solução de problemas”), publicado na revista Strategy & Leadership:
1 – Quando o problema serve de escudo. Esteja alerta, pois temos uma tendência natural de nos tornar dependentes de nossos problemas. Combatemos os sintomas, mas não mexemos nas causas reais. “Fazemos isso porque é mais confortável viver com um problema crônico do que enfrentar uma situação que nos assusta de verdade”, diz Lowy.
2 – Quando obtemos lucros pessoais com o problema. “Permitimos que um problema persista porque dele obtemos algo vantajoso aos nossos olhos”, diz. Por exemplo, o executivo-chefe que, desconfortável diante de complexidades técnicas, evita reuniões longas com os engenheiros da empresa (e acaba elogiado por isso, sendo tido como “objetivo”, com “foco no resultado”). O “lucro” nesses casos é, obviamente, ilusório.
3 – Quando a solução envolve riscos. “A única esperança que temos de acertar é correndo o risco de errar”, diz Lowy.
4 – Quando a solução é o problema. Muitas vezes, é impossível resolver um problema sem criar outro. Por exemplo, reinvestir lucros na unidade promissora ou aumentar os dividendos? Um não pode ser feito sem ferir o outro. Nesses casos complexos, a pior solução é a “tapa-buraco”, de alívio momentâneo.
5 – Quando temos muitas escolhas. A paralisia diante do excesso de opções é um fenômeno cada vez mais presente, pelo excesso de informações no mercado. “Às vezes, necessitamos de menos opções”, diz Lowy. Aprenda a priorizar. Mantenha o foco sem distrações.
6 – Quando ajudar atrapalha. É a síndrome do bom samaritano: vemos que alguém está com um dilema, tentamos ajudar e pioramos a situação. Costumamos impor soluções adequadas para nós, mas não necessariamente para o outro. “Como regra geral, o dono do problema é a melhor pessoa para resolvê-lo.”
7 – Quando o melhor é se afastar. Na tentativa de solucionar um problema, temos a tendência de concentrar o foco num único ponto, bem visível – na sua forma mais evidente. Isso acaba ocultando outros pontos. Nessas horas, é melhor se afastar do problema e retornar a ele de “olhos frescos”.
8 – Quando saber demais é o problema. É a síndrome do especialista: o gestor, o presidente fundador de empresa, o diretor veterano. Profissionais que se gabam de conhecer intimamente a operação e o produto. Conhecer demais impede que enxerguem mudanças sutis do mercado: novos gostos culturais do consumidor, um novo concorrente, novas tecnologias. A solução desse paradoxo está na “ignorância criativa”.
9 – Quando a abordagem indireta é a solução direta. Quando um problema é muito grande, tendemos à paralisia. “Nestes casos, enquanto você estiver ocupado em resolver o problema inteiro, não vai conseguir muita coisa”, diz Lowy. O melhor, então, é o caminho mais longo e indireto.
Paradoxo – Palavra grega (junção de “para”, contra, e “doxa”, opinião), designa declarações insolúveis. Há vários tipos de paradoxo, como os de linguagem, de tempo, as contradições. Solucioná-los em geral exige um novo entendimento da questão.
(*) É repórter colaborador da revista Época Negócios.
Fonte: revista Época Negócios (Editora Globo), ed. 53 (Julho/2011).
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